terça-feira, 1 de junho de 2010

Viver é uma regra

Amanhã acabam as minhas férias e depois de passar o mês todo comendo muuito sem pensar (especialmente na semana em que viajei para o Resort na Bahia, no qual eu comia e bebia praticamente o tempo todo) hoje eu surtei depois de ouvir durante a semana uma overdose de críticas e comentários maldosos em relação à minha forma física, já que engordei dois quilos. Vocês devem estar pensando que eu estou exagerando, pois o que são apenas dois quilos a mais na vida de uma pessoa? Vocês devem estar achando que sou louca. Mas não. Simplesmente todas as pessoas que convivem comigo (pai, mãe, irmãos, tios) estão me chamando de gorda e dando palpites o tempo todo no que eu devo ou não comer e isso tem me deixando deprimida.

Os dois quilos a mais estão fazendo uma grande diferença mesmo no meu corpo, pois eu nunca cheguei a esse peso na minha vida e quando isso acontece chama a atenção. Mesmo deixando claro que eu tenho consciência de que eu preciso emagrecer, que eu nunca fui gorda e já ter aderido a um regime para resolver isso as pessoas insistem em me lembrar que eu virei uma bola. E aí vem a parte que mais me irrita. A maioria das pessoas que estão me criticando estão não apenas dois quilos mais gordas, mas muito mais. Mas elas falam, porque o certo é ser magro e esta é a regra e ponto.

Coincidentemente eu participei de um torneio de tênis no sábado e as pessoas estavam presentes no jogo, que eu perdi, e o comentário depois das caras feias foi de que eu não consigo correr porque estou gorda e que a minha adversária ganhou de mim porque estava mais preparada e sarada... Agora eu pergunto: quem tinha que estar chateada com a derrota era eu, e eu mesma nem estava ligando, eu queria mesmo quando entrei no toneio participar de um jogo de verdade e só. Porque vencer é o certo? Por que estar magrinha é o certo? Por que as pessoas cobram tanto das outras algo como sendo certo se elas não sabem se a outra pessoa também acha isso certo? Onde está escrito e quem foi a santa pessoa que criou essas regras que a gente é obrigado a cumprir o tempo todo?

Por isso resolvi publicar um texto que recebi por e-mail esses dias e que exemplifica muito bem essa questão, espero que gostem como eu gostei.

Posso Errar?
Por Leila Ferreira

Há pouco tempo fui obrigada a lavar meus cabelos com o xampu “errado”. Foi num hotel, onde cheguei pouco antes de fazer uma palestra e, depois de ver que tinha deixado meu xampu em casa, descobri que não havia farmácia nem shopping num raio de 10 quilômetros. A única opção era usar o dois-em-um (xampu com efeito condicionador) do kit do hotel. Opção? Maneira de dizer. Meus cabelos, superoleosos, grudam só de ouvir a palavra “condicionador”. Mas fui em frente. Apliquei o produto cautelosamente, enxaguei, fiz a escova de praxe e... surpresa! Os cabelos ficaram soltos e brilhantes — tudo aquilo que meus nove vidros de xampu “certo” que deixei em casa costumam prometer para nem sempre cumprir. Foi aí que me dei conta do quanto a gente se esforça para fazer a coisa certa, comprar o produto certo, usar a roupa certa, dizer a coisa certa — e a pergunta que não quer calar é: certa pra quem? Ou: certa por quê?

O homem certo, por exemplo: existe ficção maior do que essa? Minha amiga se casou com um exemplar da espécie depois de namorá-lo sete anos. Levou um mês para descobrir que estava com o marido errado. Ele foi “certo” até colocar a aliança. O que faz surgir outra pergunta: certo até quando? Porque o certo de hoje pode se transformar no equívoco monumental de amanhã. Ou o contrário: existem homens que chegam com aquele jeito de “nada a ver”, vão ficando e, quando você se assusta, está casada — e feliz — com um deles.

E as roupas? Quantos sábados você já passou num shopping procurando o vestido certo e os sapatos certos para aquele casamento chiquérrimo e, na hora de sair para a festa, você se olha no espelho e tem a sensação de que está tudo errado? As vendedoras juraram que era a escolha perfeita, mas talvez você se sentisse melhor com uma dose menor de perfeição. Eu mesma já fui para várias festas me sentindo fantasiada. Estava com a roupa “certa”, mas o que eu queria mesmo era ter ficado mais parecida comigo mesma, nem que fosse para “errar”.

Outro dia fui dar uma bronca numa amiga que insiste em fumar, apesar dos problemas de saúde, e ela me respondeu: “Eu sei que está errado, mas a gente tem que fazer alguma coisa errada na vida, senão fica tudo muito sem graça. O que eu queria mesmo era trair meu marido, mas isso eu não tenho coragem. Então eu fumo”. Sem entrar no mérito da questão — da traição ou do cigarro —, concordo que viver é, eventualmente, poder escorregar ou sair do tom.

O mundo está cheio de regras, que vão desde nosso guarda-roupa, passando por cosméticos e dietas, até o que vamos dizer na entrevista de emprego, o vinho que devemos pedir no restaurante, o desempenho sexual que nos torna parceiros interessantes, o restaurante que está na moda, o celular que dá status, a idade que devemos aparentar. Obedecer, ou acertar, sempre é fazer um pacto com o óbvio, renunciar ao inesperado.

O filósofo Mario Sergio Cortella conta que muitas pessoas se surpreendem quando constatam que ele não sabe dirigir e tem sempre alguém que pergunta: “Como assim?! Você não dirige?!”. Com toda a calma, ele responde: “Não, eu não dirijo. Também não boto ovo, não fabrico rádios — tem um punhado de coisas que eu não faço”. Não temos que fazer tudo que esperam que a gente faça nem acertar sempre no que fazemos. Como diz Sofia, agente de viagens que adora questionar regras: “Não sou obrigada a gostar de comida japonesa, nem a ter manequim 38 e, muito menos, a achar normal uma vida sem carboidratos”. O certo ou o “certo” pode até ser bom. Mas às vezes merecemos aposentar régua e compasso.

Leila Ferreira é jornalista, apresentadora de TV e autora do livro Mulheres – Por que será que elas..., da Editora Globo.

3 comentários:

  1. São perguntas pesadas, Camila, as que você aqui pergunta. Desde Adam Smith, os cientistas sociais tentam abordar a grande questão da sociedade moderna - e sua imensa complexidade! Acho que este artigo que vc escreveu aponta a várias - e com certeza devemos continuar esta reflexão em pessoa após minha chegada a Goiania! (Menos de um mês!!)
    Beijão,
    Seu primo

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  2. Para quem não for da sua família (rs), cante aquela musiquinha linda da Lily Allen: "Fuck you (fuck you)/Fuck you very, very much"..hehehe. Eu vi vc aquele dia no tênis e não te achei nada gorda!!! Beijos!

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  3. Oi, Camila!

    Super me identifiquei! rs Já passei por isso de engordar 2, 4, 6, 8 kg!! O importante é: vc está feliz como está? Então foda-se!

    Para aqueles que insistirem em te dizer q vc ficou gorda, jogue o cabelo, abra um sorriso e diga: "Vc achou? Eu me sinto linda!" Fim.

    Não tem nada que desarme mais alguém do que a auto confiança (e agora? com hifen ou sem?). E tb tô cansada desse padrão de beleza, de atitude, de sentimento. Pô, cada pessoa é um indivíduo único e o mais legal da vida é poder ser única - nem que seja só pra vc.

    ;)

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