sábado, 2 de janeiro de 2010

Lista do Bem


Este mês eu tive a oportunidade de realizar o trabalho mais bonito e prazeroso da minha vida. Eu que sempre dizia que queria fazer uma matéria que pudesse realmente ajudar, orientar e apoiar de verdade uma pessoa. O maravilhoso é que com essa matéria acho que ajudei mais de 20. Com certeza bem mais, mas não tenho noção de quantas.

Quando meu editor me disse que eu teria que fazer uma matéria por dia, durante todo o mês, cada uma com um personagem diferente, confesso que fiquei desanimada. O nome da série é Lista Pra Fazer o Bem. Eu ligava para as instituições filantrópicas e entidades sociais e procurava alguém que estivesse passando por problemas como vício, doenças, pobrezas, injustiças, solidão. Eu achava que as pessoas não iam querer falar e que eu ia ficar atolada de coisas pra fazer e estressada com as histórias tristes. Me enganei.

O que não faltaram foram histórias tristes e emocionantes de gente precisando de ajuda. Fiquei estressada sim, triste às vezes, chocada, chegava em casa desanimada, mas ao mesmo tempo com uma sensação tão boa, de satisfação, de ter sido útil às pessoas, de verdade. Me empolguei e, mesmo cansada, ficava pensando onde eu ia ligar, como seria a história do próximo dia.

Uma das vezes em que me senti tão bem assim foi quando eu soube que a Daiane, uma das personagens que entrevistei, tinha localizado o pai, que ela me contou que não via há uns 14 anos. A Daiane perdeu a mãe nos seus braços e quando soube que a única pessoa que tinha no mundo, o irmão, estava com câncer ela entrou em depressão e tentou o suicídio seis vezes. Depois ela deu a volta por cima, conseguiu um emprego e passou no vestibular. Mas mesmo assim se sentia só e sonhava em encontrar o pai, que ela soube que a tinha abandonado.

Daiane me contou que a única coisa que sabia do pai era o nome, um nome incomum. Então eu pensei: vou colocar esse nome no jornal, tanta gente lê, vai que ele aparece. E foi o que aconteceu. Um policial localizou o homem e eu foi lá registrar o encontro de pai e filha. Foi muito bacana. O pai disse que não a abandonou, que foi a mãe dela que pediu que ele se afastasse e se mudou sem deixar contatos. Esse foi um dos finais felizes, que de certa forma eu ajudei a proporcinar. Como diz a minha sogra eu fui o elo, o meio para ajudar pessoas como seu Lamartino, que ganhou uma casa, a pequena Iara, que foi estuprada pelo pai desde o cinco anos de idade, que tem agora três pessoas querendo adotá-la, o jovem que teve câncer e sonhava em publicar um livro e muitos outros.

Me senti muito, muito feliz por fazer a minha parte e ouvir tantos elogios, tanta gente me ligando para agradecer, contando, cheias de orgulho, tudo o que conseguiram depois que contei suas histórias no jornal. Por mim eu fazia isso o ano inteiro mesmo cansada e tantas vezes inconformada com a crueldade a que muitas dessas pessoas foram submetidas. Publico aqui a matéria final que eu fiz, que foi publicada no jornal O POPULAR no dia 25 de dezembro com alguns sorrisos e finais felizes graças à Lista pra Fazer o Bem. Feliz Ano Novo à todos vocês meus leitores queridos. Um 2010 cheio de alegrias e realizações!!!!!

NATAL FELIZ GRAÇAS A QUEM FEZ O BEM
Lamartino ganhou casa; Joana, brinquedos. estes são exemplos de que a solidariedade pode melhorar a vida de quem precisa

Camila Blumenschein


Alegria, esperança e final feliz. É o que algumas pessoas que contaram suas histórias para a série de reportagens publicada por O POPULAR desde o dia 1º de dezembro, a Lista para Fazer o Bem, conseguiram alcançar, com a ajuda de diversos leitores, que se solidarizaram com seus problemas. São pessoas e famílias com histórias de dor e sofrimento, que, com a ajuda de entidades filantrópicas, conseguiram algum apoio, dignidade e ajuda para superar obstáculos como violência, vícios, pobreza, doenças, solidão e injustiças.

Uma delas foi a garota Joana (nome fictício), de 12 anos, que foi abusada sexualmente pelo próprio pai e obrigada a se prostituir pela mãe, e que sonha em ser adotada por uma boa família. Quatro mulheres procuraram o Centro de Valorização da Mulher (Cevam), onde Joana vive, com projetos de adoção.

Além da intenção de ajudar a menina a ter uma vida normal e feliz depois de todo sofrimento que viveu, essas mulheres também levaram presentes, como roupas e mochilas, para a jovem. De acordo com a coordenadora do Cevam, Cecília Machado, dezenas de pessoas não param de ligar na instituição, sensibilizadas com a história da garota, que foi estuprada dos 5 aos 11 anos de idade dentro da própria casa.

As outras 26 meninas, todas com histórias de abusos, também foram presenteadas. Seis pessoas levaram brinquedos para distribuir entre as crianças e outra doou o material escolar para as jovens, concretizando um pedido especial de Joana. Cerca de 21 pessoas foram até o Cevam para fazer visitas à garota. Outras levaram alegria às moradoras da instituição com a organização de duas festas no local e também com a entrega de um bolo gigante.

Joana conseguiu encontrar três madrinhas, uma delas passou por uma avaliação e pôde levar a jovem para passear. “Fiquei muito feliz. A minha madrinha é legal e estou fazendo coisas legais com ela. Agradeço a todos por tudo!”, declara a menina, com seu jeito tímido, resultado do trauma que viveu.

A felicidade também bateu na porta da família de Lamartino Martins, de 62 anos, que sofre com uma paralisia no corpo, desde que foi atropelado por uma vaca, quando trabalhava em um curral. O homem, que enfrenta muitas dificuldades, inclusive sem ter como pagar o aluguel da casa onde vivia e sem poder comprar os remédios que precisa, foi presenteado com uma casa novinha em folha. “Dez advogados me procuraram e nos deram uma casa no Jardim Curitiba 3. Estou muito feliz!”, diz Lamartino, emocionado com a escritura da residência nas mãos.

Mesmo com todas as dificuldades financeiras e de saúde, o ex-vaqueiro, que adotou duas crianças que ficaram sem família, um deles portador do vírus HIV, também recebeu doações em dinheiro e cestas básicas e vai ganhar camas novas e colchões. Lamartino também recebeu a visita de um fisioterapeuta que está realizando com ele um tratamento de acupuntura, que, segundo o idoso, está sendo muito bom para sua saúde. “Ele vem aqui e coloca as agulhas e eu me sinto muito bem”, conta.

Muito satisfeito com toda a ajuda que tem recebido, Lamartino diz que, quando conseguir voltar a trabalhar, seu maior plano, ele pretende ajudar muitas pessoas, como está sendo feito com ele e a família. “Sei que existe muita gente em situação pior que a minha e eu quero ajudar pessoas assim”, destaca, com gratidão, o ex-vaqueiro.

Outro pedido atendido foi o da psicóloga Suely Linhares, de 58 anos, que acolhe dentro da própria casa idosos com transtornos mentais. Na reportagem do POPULAR, a psicóloga reclamou da falta de apoio do município em relação ao trabalho que realiza com 43 idosos, que vivem com ela. Suely também contou sobre um processo na Justiça que tem a intenção de despejá-la das terras que ela comprou para construir o abrigo.

De acordo com a psicóloga, o prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, visitou o abrigo e ofereceu a ela o apoio que ela pedia. “Ele me falou que vai me ajudar com o que for preciso, Graças à Deus”, ressalta. Suely conta que um grupo de motociclistas a procurou e se mobilizou em busca de ajuda para o abrigo. “Eles vieram aqui e fizeram um café da manhã e agora são nossos voluntários. Eles disseram que vão até à Presidência da República se for preciso para me ajudar”, declara, satisfeita.

Além dos novos amigos e do apoio da prefeitura, a psicóloga também recebeu doações de fraldas geriátricas e alimentos, que ela diz sempre precisar. “O que ganhamos vai dar para começar o ano com tranquilidade. Estou muito emocionada e feliz. Agora estou pronta para enfrentar os problemas sem perder o sono”, diz.
O jovem Wallace Ventura, de 21 anos, que vive com as sequelas de um câncer na coluna e sonha em publicar um livro contando o seu drama, está a um passo de realizar seu desejo.

A publicação da reportagem com sua história foi o impulso que ele precisava para ligar mais uma vez para uma editora pedindo ajuda para a publicação do livro, já que ele não tem condições de pagar. “Liguei na editora Kelps e um dos donos de lá me prometeu o patrocínio de 50% ou até 100% do meu livro. Estou muito empolgado”, declara Wallace.

UMA NOVA FAMÍLIA PARA DAIANE

Camila Blumenschein

A estudante Daiane Bárbara Pereira da Silva, de 21 anos, não via o pai, Marcionilio, há 14 anos. Mas, graças à reportagem do POPULAR, agora tem uma nova família para passar o Natal. Segundo a jovem, o encontro emocionante com o pai e com as duas irmãs é o melhor presente que poderia receber depois de tudo que viveu.

Ela conseguiu superar uma forte depressão que a levou a tentar o suicídio seis vezes, depois que perdeu a mãe em seus braços. Daiane ficou sozinha com um irmão e entrou em desespero quando soube que a única pessoa que tinha no mundo estava com câncer.

O irmão da jovem se curou e depois de sair da clínica em que ficou internada, ela conseguiu um emprego que mudou a sua vida. Daiane pediu ajuda para pagar o curso de Psicologia que pretende cursar em uma universidade particular até conseguir uma bolsa de estudos. “Duas pessoas me ligaram oferecendo para pagar a faculdade. Tenho muitas esperanças que vai dar certo”, salienta.

3 comentários:

  1. Camila, querida, está exatamente nisso a função do jornalismo, penso eu. Mudar a vida das pessoas, proporcionar possibilidades de mudança. Não é à toa que você gostaria de fazer isso o ano todo... Afinal, nos outros 11 meses do ano, temos, infelizmente, não muitas oportunidades "pra fazer o bem". Parabéns pelo trabalho de fôlego e sensível e pelos resultados a que eles levaram. E que você redija muitas boas notícias em 2010! bjo!

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  2. Camilitas!

    Adorei esta reportagem! Tenho bastante para comentar sobre ela... Porque ando pensando muito sobre este tema, como ajudar, ou melhor "servir" os outros. Vc tem os links de todas as reportagens? Queria poder as ler tmb! Queria discutir esta matéria com vc... Vou tentar ligar pra você este fim de semana, pra gente conversar!
    Beijos, N

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  3. Goiânia, dezembro de 2009. Redação do Popular. E mais uma vez chega a Camila Blue com uma cara de enterro, se vira para mim e diz: "Almiroo! Você não acredita no que eu vi hojee..." E desfiava, com cara de quem quase estava a debulhar lágrimas, mais uma história triste. O fato dela se sentar na máquina bem na minha frente fez com que ela dividisse, antes da publicação, comigo algumas das histórias. Outro que sempre ouvia era o Adriano Marquez Leite. Mas o que valia a pena mesmo nos casos que se sucederam ao longo daquele mês era a satisfação do dia seguinte. Era quando ela recebia ligações de pessoas querendo ajudar os personagens da matéria. Era ver no olhar da colega jornalista o brilho do dever cumprido. Jornalismo também é isso, Camila. Ele mostra as agruras, as tristezas e não é capaz de mudar o mundo, só que ele tem um importante dom transformador. Não somos revolucionários, mas também podemos fazer um pouco que seja para ajudar as pessoas. E que venham ainda milhares de listas do bem para você. A editoria de Cidades toda diz amém!
    Almiro Marcos

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